A nova aposta dos EUA no Oriente Médio vislumbra a normalização entre sauditas e israelenses. Apesar dessa ideia existir antes do governo Biden, a sua concepção como objetivo foi debatida na mídia ocidental no mês de junho e julho. O sucesso dessa empreitada seria apresentado publicamente como um grande triunfo da paz organizado pela batuta dos Estados Unidos, mas ela passa por um elemento mais importante: um pacto de segurança dos EUA com a Arábia Saudita.

Essa situação nos convida a uma análise mais ampla sobre o atual tabuleiro geopolítico e estratégico do Oriente Médio. O artigo está dividido em duas partes: a primeira se concentra na relação dos sauditas com os Estados Unidos em seus aspectos conflitos nos últimos dez anos, incluindo a competição com a Irmandade Muçulmana e algumas questões de política econômica; a segunda traz a luz elementos importantes sobre a Guerra do Iêmen e o papel da República Popular da China, de Israel, da República Islâmica do Irã e dos Emirados Árabes Unidos em relação a configuração de um novo pacto EUA – Arábia Saudita.

As duas partes são informativas e contam com análises importantes separadamente. O sentido geral da análise, no entanto, será melhor apropriado com a leitura de ambas.

Leia aqui a PRIMEIRA PARTE

Aproximação Chinesa

A aproximação da Arábia Saudita com a República Popular da China é uma das preocupações mais reconhecidas. Em alguns casos, a ascensão chinesa é retratada como uma virada brusca, uma substituição, quando talvez seja mais preciso falar de uma aproximação que movimenta a distribuição de forças.

Falando para a DW, a professora de estratégia e segurança da Escola de Guerra dos EUA, Dawn C. Murphy, disse que a influência chinesa dá mais “poder barganha” para os países da região em relação aos Estados Unidos, mas que não acredita que “esses países tenham qualquer expectativa que a China ofereça as mesmas garantias de segurança que os Estados Unidos”, reduzindo sua presença ao lado político e econômico.

Em seu livro, Murphy descreve o comportamento chinês em relação ao Oriente Médio como “divergente da ordem liberal” por sua ênfase estrita na ideia de soberania e integridade territorial “contra a interferência e as intervenções dos EUA” (MURPHY, 2022, p. 66). Apesar disso, “a promoção chinesa da cooperação Sul-Sul é categorizada como competitiva e convergente com as normas”(MURPHY, 2022, p. 67), ou seja, faz oposição aos países desenvolvidos sem buscar a derrubada da ordem internacional vigente – o que em geral é colocado como um conjunto de reivindicações associadas ao desenvolvimento.

O comportamento chinês é bem exemplificado pela postura de seus enviados especiais para o Oriente Médio, que contrasta com o tom assertivo da política externa dos EUA. Os chineses enfatizam os mecanismos diplomáticos estabelecidos e declarações favoráveis a instrumentos de negociação entre partes em conflito. O tom contrasta até mesmo quando norte-americanos e chineses condenam agressões israelenses (com a ressalva de que os Estados Unidos têm mais em jogo – transferem bilhões em assistência militar para os israelenses e isso reflete o sentido da sua “liderança” na região como hegemonia militar); ainda mais distintas as declarações sobre a Arábia Saudita – analistas e o próprio Biden na prática debatem publicamente se devem deixar o reino saudita continuar a existir.

Em artigo sobre as relações dos chineses com os sauditas, Al-Sudairi, Jiawei Hai e Alahmad repetem um argumento comum sobre a abordagem chinesa: “trabalhar com atores locais (…) assimilando formas, práticas e normas locais e tradicionais”. A China é contínua e previsível em seu tom amigável e nos interesses econômicos, enquanto os norte-americanos misturam declarações de princípio hostis (“o assassinato de Khashoggi é inaceitável e será punido”) com ofertas de amizade e benções militares.

De toda forma, o mero potencial de um maior protagonismo chinês na região causa preocupação na estratégia hegemônica dos Estados Unidos. No campo tecnológico, a potência ocidental teme que a chegada de empresas como a Huawei na economia saudita abra um caminho para os chineses acessarem tecnologia ocidental, já que o capital saudita está cada vez mais presente em empresas ocidentais do setor. Não só a difusão de informações sensíveis, mas a difusão de normas alternativas também é uma preocupação.

Mais alto nas prioridades, a especulação de que os sauditas poderiam negociar petróleo com a China em yuan ao invés de dólar, que seria usado para pagar empresas chinesas envolvidas em projetos de infraestrutura. Nesse caso, também devemos pensar na estratégia dos Estados Unidos como afirmação de hegemonia e gestão de risco no longo prazo, já que mesmo se isso se concretizasse existem outros fatores (EUA poderiam tomar medidas e manipulação cambial; grande parte dos investimentos sauditas se dirigem aos Estados Unidos e por si só aumentam a demanda pelo dólar americano).

A crise bancária dos Estados Unidos no início de 2023 resultou no colapso do banco Credit Suisse, que os sauditas haviam “salvo” de outros problemas se tornando um “investidor estratégico” com 1,5 bi de dólares, usando o Banco Nacional Saudita (SNB) para adquirir 9,9% do banco suíço. A operação era só mais uma parte de uma estratégia que criou o SNB como um gigante financeiro saudita e a participação no Credit Suisse era uma forma de aprimorar a capacidade de gestão centralizada de capitais e captação dos árabes, especialmente para os planos de construção de cidades tecnológicas do Príncipe Bin Salman.

Um dos discursos favoráveis à predominância mundial dos Estados Unidos se refere a uma capacidade e competência em áreas como a regulação financeira, e o fracasso deles aqui afetou diretamente os sauditas com o colapso do Credit Suisse. Os órgãos regulatórios suíços negaram que os sauditas subissem sua parte para 40% do banco e as autoridades do país europeu armaram uma fusão com o UBS, outro banco suíço. Os sauditas amargaram um prejuízo de mais de um bilhão e ficaram com menos de 1% da nova instituição.

O comportamento das autoridades ocidentais, sua prioridade em salvar os próprios ricos e os fundos de pensão capitalizados, a articulação global dos Estados Unidos para tomar medidas de aumento de liquidez, tudo isso mostrou para os sauditas quem manda e que quem manda nem sempre se importa com o que eles querem. Foi um golpe na confiança, mas os sauditas não podem simplesmente romper com o sistema – um dos objetivos do Príncipe MBS não era só aumentar a capacidade de captação externa, mas conseguir concentrar recursos da sua própria classe alta para converter em investimentos. Ao mesmo tempo, a presença do capital ocidental continua preponderante na Arábia Saudita, mesmo no setor petrolífero.

No mesmo período, ocorreu o acordo entre Irã e Arábia Saudita mediado pelos chineses, o que foi interpretado por muitos como vitória chinesa contra os norte-americanos; também em março, os sauditas assinaram um acordo com a Organização de Cooperação de Shangai. Um par de especialistas escreveu para a Foreign Policy um artigo condenando isolacionistas nos Estados Unidos dizendo que o “sentido” por trás da paz seria a compreensão iraniana de que o momento é de se formar uma grande aliança anti-ocidental, que o guia iraniano Khamenei teria uma visão de “liderar a civilização islâmica” enquanto a Rússia e a China lideram as civilizações eslávicas e confucianas respectivamente.

O comentário de Yasmine Farouk para instituto Carnegie foi muito menos alarmista e comparativamente contido (sobretudo quando comparado com os que exigem maior protagonismo dos EUA na região): as três partes dessa conversa tem limitações, os chineses não se envolvem completamente, os iranianos lidavam com distúrbios internos e os sauditas poderiam estar precisamente atuando no interesse ocidental.

O papel chinês nesse caso certamente é um marco, mas um marco inicial e existem bons motivos para não apressar a análise com visões de uma “grande virada”.

Recomposição de forças: os iranianos e o Iêmen

Apesar da percepção desse acordo como uma derrota para os norte-americanos, é prudente pensar de forma contraintuitiva sobre como esse acontecimento pode casar com a grande estratégia dos Estados Unidos. Primeiro, iranianos e sauditas já estão negociando no Iraque há anos, e todos os esforços para os norte-americanos não perderem o Iraque passam pela influência política iraniana no país. Segundo, os Estados Unidos exigiam o fim das hostilidades sauditas no Iêmen e saudaram a iniciativa do reino de participar de um formato para a paz na ONU, que é um dos canais principais de atuação dos chineses. Terceiro, a atuação dos chineses nesse sentido já vem desde o início do conflito, sendo que mantiveram uma posição de reconhecimento da legitimidade do governo apoiado pelos sauditas ao mesmo tempo que mantiveram contato com os rebeldes.

Os Estados Unidos não apoiaram intensamente os esforços de guerra dos sauditas que começaram em 2015, no mesmo momento em que Obama esfriava as relações com o Reino e chegava a um acordo com os iranianos. Em março de 2015, Obama falou de oferecer apoio logístico e de identificação de alvos para os sauditas, para já em abril a porta-voz do Departamento de Estado defender “negociações”. Os Estados Unidos continuaram bombardeando o país em outras partes contra alvos associados à Al Qaeda, sem relação ou proximidade geográfica com os rebeldes combatidos pelos sauditas. No mesmo ano, John Kerry falava de negociações com Assad, retirando pelos menos por um momento a prioridade militar em relação ao regime sírio por considerar o grupo terrorista “Estado Islâmico” mais importante, isso cinco meses antes da Rússia entrar na guerra – na prática uma concessão aos iranianos.

Os sauditas receberam apoio da França, do Canadá e sobretudo da Grã Bretanha, que foi possivelmente a maior apoiadora política e militar da guerra. Os Estados Unidos voltaram a apoiar com a estratégia de confrontação que Trump adotou em relação aos iranianos, ajudando na ofensiva para tomar o porto de Hodeida, o principal do norte do Iêmen.

A política do governo Biden mudou, por motivos que podem ser discutidos -como vimos aqui, existem diferentes concepções no seio da política norte-americana – mas que podem ser resumidos como preocupações perante a persistência dos iranianos e os riscos de se apoiar o expansionismo descontrolado dos israelenses.

Com Biden, os norte-americanos voltaram a conversar com a República Islâmica do Irã e buscam algum tipo de recomposição informal do acordo nuclear. Os que defendem uma política anti-iraniana agressiva (e que em geral apoiam a aliança com os sauditas, nem que seja para passar a “mensagem certa” para os iranianos) dizem que o Irã vive “dias dourados” e reclamam que os EUA não fazem esforços para deter mais do que um décimo dos navios tanques que levam o petróleo da República Islâmica.

Apesar da reputação da República Islâmica do Irã, existem tendências islamistas interessadas em relações mais amigáveis ou pelo menos belicosas com os Estados Unidos, que venceram tendências mais radicais nos anos 90 e chegaram a apoiar o separatismo bósnio na Iugoslávia ao lado da OTAN, além de movimentos islamistas no espaço pós-soviético. Recentemente, os iranianos chegaram a ensaiar uma reaproximação com a Irmandade Muçulmana quando esta assumiu o poder do Egito e intensificaram seus contatos com a Turquia.

O Ministro das Relações Exteriores da Turquia responsável tanto pelo maior envolvimento turco no conflito líbio como pelas aproximações com o Irã foi Mevlüt Çavuşoğlu, que é notório por sua formação ocidental, sua posição favorável à expansão da OTAN, seu apoio à Azerbaijão contra a Armênia e por chamar a Rússia de maior ameaça à segurança internacional ao lado do terrorismo. Ele foi substituído no dia 6 de junho por Hakan Fidan, que era chefe da inteligência turca desde 2015. Fidan é descendente de curdos, foi militar nas “Forças de Resposta Rápida” da OTAN na Alemanha e é conhecido por buscar cooperação com o Irã.

No conflito da Líbia, a partir do segundo semestre de 2020 os iranianos passaram a se aproximar Governo de Unidade Nacional, reconhecido internacionalmente mas apoiado pela Turquia e com um governo identificado com o islamismo da Irmandade – esse governo é o favorito dos ocidentais. É possível que os iranianos tenham fornecido apoio militar; o que é certo é que apoiaram oficialmente a posição do Governo de Unidade Nacional e da Turquia em uma visita do ministro das relações exteriores do Irã em Istanbul.

Trump havia bloqueado um empréstimo de 5 bilhões do FMI para o Irã combater os efeitos do coronavírus – o empréstimo foi liberado em 2021; além disso, o governo Biden acenou com a possibilidade de liberar um bilhão de fundos iranianos que estavam congelados. O grupo anti-iraniano diz que o possível acordo nuclear seria “pior” do que o anterior. No Iraque, a nomeação de Mustafa Al-Kadhimi como primeiro-ministro em 2020 pode ser lida como uma vitória dos EUA no momento em que tese o “Eixo de Resistência” se afirmava no país; ele assinou com Biden um protocolo para a retirada de tropas dos EUA e foi sucedido por Mohammed Shia’ Al Sudan, próximo da resistência mas conciliador do ponto de vista geopolítico: de forma inesperada, defendeu a continuidade de tropas norte-americanas a despeito do protocolo assinado pelo antecessor e supostamente contrária à posição da coalizão xiita que ajudou ele chegar ao poder – se justificou dizendo que “não é uma coisa impossível, ver o Iraque com uma boa relação com o Irã e os Estados Unidos”.

Voltando para o Iêmen, em janeiro de 2021 Mike Pompeo iria definir os líderes dos rebeldes do Iêmen como “terroristas globais especialmente designados”, o que foi revogado por Antony J. Blinken. É de se supor que se os Estados Unidos assumiram uma política de negociação com o Irã ou de reconhecimento de vitórias iranianas, os aliados do Irã no Iêmen não poderiam ser ignorados. O já citado Porto de Hodeida havia sido retomado pelas forças do governo, que deixaram suas posições no final de 2021 e logo foram reocupadas por forças rebeldes.

Quando os houthis enviaram drones para atacar o território dos Emirados Árabes Unidos, os governantes árabes teriam ficado “frustrados com a resposta lenta dos EUA”, que tem bases na país (como também têm os franceses). Blinken pediu desculpas ao príncipe de Abu Dhabi por isso.

Os sauditas começaram essa guerra para apoiar o governo reconhecido internacionalmente de Abdrabbuh Mansur Hadi, mas o país está mais dividido e o governo mais fraco do que em 2015 (sendo a facção mais fraca na correlação de forças militar atualmente).

O principal aliado em campo da intervenção saudita foram os Emirados Árabes Unidos, que abandonaram os objetivos sauditas de sustentar o governo Hadi, criaram esquadrões da morte contra o partido Islah (ligado à Irmandade Muçulmana) e apoiaram o movimento separatista no sul do país, do Conselho Transicional do Sul, além de algumas outras milícias anti-governo.

Isto é, os rebeldes preservaram a maior parte do seu território e o território do governo foi dividido pela atuação de uma intervenção estrangeira que pretendia “ajudar”. O que os Emirados fizeram foi reconstituir um território que antes foi colônia dos britânicos, criando um sistema de força marítima e controlando doze portos, sendo o de Aden o mais importante do país e o sistema como todo tendo uma importância estratégica a nível mundial (além disso, os Emirados criaram bases navais na Eritreia e em Somaliland). Ao tomar a Ilha de Socotra das forças do governo, os Emirados Árabes podem instalar um centro de atuação estratégica disponível para israelenses ou para a conhecida atuação de forças especiais britânicas na região.

A corrida entre os monarcas: a importância dos Emirados Árabes Unidos

Os Emirados Árabes Unidos são um pequeno país no golfo árabe, com uma área de 83.600 km², menor que a do estado do Pernambuco e cerca de 25 vezes menor que a Arábia Saudita, com uma população de 9 milhões e 300 mil pessoas, sendo que só um pouco mais de um milhão dessa é formada por nativos.

O emir mais poderoso e Presidente dos Emirados Árabes Unidos, Mohammed Bin Zayed é considerado “mentor” de Mohammed Bin Salman e teria algum grau de envolvimento com a ascensão do príncipe saudita. No mês de julho – isto é, quando se reforça a discussão sobre um novo entre o reino saudita e os EUA – vem a tona um conflito entre ambos. O Wall Street Journal levantou que o príncipe saudita disse em uma reunião de jornalistas que os Emirados deram uma “facada nas costas” de seu reino (fala que não surpreende se olharmos para o Iêmen). Correspondente do Le Monde no Líbano, Heléne Sallon escreve no dia 1 de agosto que a aliança “ruiu”. Batoul Suleiman levanta no The Craddle outros pontos de conflito.

Como alertei no passado em relação ao conflito do Sudão, as forças paramilitares de Hemetti estavam mais próximas dos Emirados Árabes – em julho, Talal Mohammed escreveu que o conflito sudanês é uma “guerra por procuração” dos Emirados contra os sauditas, esses últimos apoiando o governo do general Burnham. Um dos motivos seria o fato de que os sauditas pretendiam construir um gasoduto até o porto de Aden, no Iêmen, o que sabotado pelo separatismo bancado pelos Emirados – ou seja, o conflito está dos dois lados do Mar Vermelho.

Um dos episódios é uma intriga geopolítica exemplar: enquanto os Emirados mantinham um posicionamento neutro no conflito da Ucrânia e serviam de eixo financeiro para recursos russos buscando uma saído, além de negociações de armas de fabricantes russos, seus agentes em Washington tentavam retratar o príncipe saudita como arrogante e “pro-russo”, responsável em última instância pela decisão da OPEP de cortar a produção de petróleo para aumentar os preços.

Os Emirados Árabes Unidos também sempre conduziram uma política “sinuosa” em relação ao Irã – problemática, de fato, e que piorou em 2020 quando os Emirados reconheceram Israel, mas com momentos bons e ruins para os interesses iranianos- mas receberam mal a retomada de relações dos sauditas com os vizinhos iranianos, como se coubesse aos sauditas o papel de contrapor a República Islâmica enquanto os Emirados mantém um espaço de manobra.

Os Emirados mantiveram uma posição “cuidadosa”, “amena” ou “ambígua” em relação ao conflito na Síria. O governo fazia declarações enfatizando a “segurança e liberdade do povo Sírio” mas não colocava todos os ovos em uma cesta. Autoridades falaram em 2014 que Assad não poderia permanecer no poder, sem chegar no tom agressivo dos sauditas, turcos ou cataris. Participaram da coalização dos Estados Unidos contra o grupo “Estado Islâmico”, mas apoiou a intervenção russa no conflito; também apoiaram a formação das “Forças Democráticas Sírias” junto dos Estados Unidos, coalizão militar de maioria curda. Relações dos Emirados com a Síria reaqueceram mais decisivamente a partir de 2018. Supostamente existem discordâncias entre os Emirados e o reino saudita sobre o ritmo de reintegração da Síria na sociedade das nações árabes.

Na política externa, os Emirados Árabes apostaram em uma aproximação com os Estados Unidos participando de todas as grandes operações de guerra ligados ao país desde 1991, com exceção do Iraque em 2003, mas incluindo Iraque em 1991, Somália, Kosovo, Afeganistão, além das operações relativas às intervenções na Líbia e na Síria após 2011. Como vimos, nos últimos dez anos os sauditas tiveram problemas com os norte-americanos sobretudo na administração Obama, enquanto os Emirados foram considerados aliados de confiança para as últimas duas administrações e serviram de “interlocutores” para os sauditas nos maus momentos.

Podemos dizer que os Emirados Árabes Unidos como o Reino da Arábia Saudita tiveram insatisfações com a política de distensão com o Irã do governo Obama, mas os sauditas por governarem um Estado maior e teoricamente mais forte tentaram compensar isso de forma mais aberta, com sua própria lógica de intervenção na Síria e a operação no Iêmen, correndo risco maior de ser responsabilizada pelo o fortalecimento de grupos terroristas.

A última década também foi um período de endurecimento do regime dos Emirados. Mohammed Bin Zayed buscou estabelecer um novo modelo de modernização autoritária, capitalista e hostil ao discurso religioso na esfera pública como ocorria na Arábia Saudita ou conforme representado em seus opositores na Irmandade Muçulmana. Os Emirados Árabes Unidos se converteram em uma pequena casa de força regional, capaz de ser um ponto de convergência financeiro ao mesmo tempo que se projetou militarmente.

O objetivo da projeção militar da federação pode ser lida como uma tentativa de colocar o país na posição de defensor agressivo do poder ocidental na região. A combinação de seu modelo interno com sua projeção externa seria uma garantia de integrar a região de forma instável ao mercado financeiro global.

Em 2014, o ex-comandante das forças dos EUA no Oriente Médio disse ao The Washington Post que os Emirados Árabes eram “a relação mais forte dos Estados Unidos”, enquanto o embaixador dos Emirados em Washington dizia com todas as letras que eram “os melhores amigos dos Estados Unidos na região”. O país acumulava os feitos militares ao lado dos Estados Unidos, inclusive o de ser o único ao lado da Austrália que não faz parte da OTAN mas tinha confiança das tropas norte-americanas para conduzir bombardeios de apoio no Afeganistão. Por isso, generais norte-americanos e em especial James Mattis se referiam ao país como “Pequena Esparta”, alcunha que começa a se multiplicar em artigos a partir de 2014 e que aparentemente caiu no gosto dos próprios Emirados (até filme fizeram). 

A aliança, entretanto, não fluiu tranquilamente: em 2019, Liz Sly escreveu para o The Washington Post que as ambições dos Emirados “saíram pela culatra” com o país se colocando entre o Irã e os Estados Unidos em conflito. O Irã mostrava força e seus aliados saíram triunfantes do enfrentamento com o  “Estado Islâmico” (e a política agressiva dos EUA tentava compensar isso).

Também em 2019 Hassan Nasrallah, secretário-geral do Hezbollah, fez uma declaração para os Emirados Árabes Unidos: “não apostem em uma guerra contra o Irã pois serão destruídos”, “sua casa é feita de vidro, sua economia é feita de vidro, de vidro como são suas cidades.

Os problemas não eram só com o Irã: como na sua relação com a Arábia Saudita, os Estados Unidos se mostram como um hegemon que se reserva o direito de julgar os aliados – ou clientes – com liberdade. Por exemplo, os Emirados bombardearam grupos islamistas ligados à Al Qaeda e à Irmandade Muçulmana na Líbia, mas isso não agradou aos Estados Unidos que quer ter o objetivo de “combater o islamismo” sobre seu controle e comando. Os norte-americanos se preocupam de ter criado uma força militar muito poderosa ou impertinente, então os anos de apoio da superpotência pairam sobre os Emirados Árabes como uma espada de Dâmocles.

Não é impressionante, portanto, que os Emirados Árabes cogitem algumas alternativas que aumentem sua segurança, inclusive contando com os russos e chineses para “controlar” as ambições iranianas, o que por outro lado aumenta as preocupações norte-americanas. Existe também uma dimensão econômica: Mohammed Baharoon escreve que a contradição se construiu pois os Estados Unidos ofereceram aos árabes uma ordem globalizada de livre comércio e livre circulação de capitais, mas que agora são eles mesmos atacando essa lógica em suas guerras contra a Rússia e a China, com protecionismo, sanções, confiscos e congelamentos.

O choque de poder dos Estados Unidos sobre essas redes financeiras e comerciais afeta os Emirados Árabes, que também ficam com a má impressão dos ocidentais em função do que aconteceu com o dinheiro dos sauditas na Credit Suisse. Para ampliar a diferença entre os dois aliados, os Emirados Árabes se juntaram ao Banco de Desenvolvimento dos BRICS, que é descrito no Middle East Briefing (voltado para investidores) como um banco de desenvolvimento que envolve mais consenso que o normal.

É também notável que desde 2019 existe uma intensificação das relações comerciais da federação árabe com a República Popular da China (exportações e importações; fluxo de capitais do Golfo para a China se intensifica em 2023; apesar do discurso comum falar da “decadência dos EUA versus ascensão da China”, é bom contrastar o fluxo de capitais árabes e as exportações chinesas para os Emirados com os problemas econômicos da China para entender a importância da relação). 

O principal ponto de tensão atual é, sobretudo, o fato dos Emirados Árabes servirem como eixo financeiro para a articulação dos russos, não aplicando as sanções e servindo também para o funcionamento das articulações internacionais da Rússia na África e no Oriente Médio.

Apoio e contenção: Israel

Durante o governo Trump a alternativa militarista em Israel prosperou, sobre o que podemos destacar os ataques contra alvos iranianos na Síria e o reconhecimento dos Emirados Árabes Unidos. A conjunção do apoio norte-americano com o fato dos Emirados estarem com sua projeção em alta eram favoráveis à direita israelense, que no entanto passou por uma crise política interna e enfrentou a mudança da orientação externa dos EUA com a ascensão de Biden.

Junto da política de “cessar-fogo” com os iranianos vem a implementação de uma política específica para Israel e a Palestina, que incluí fortalecer um movimento palestino “pro-americano” e conter o expansionismo israelense. Em julho Biden disse que o compromisso com Israel é “inabalável” mas reclama da expansão de assentamentos judeus na Cisjordânia e pede que o governo israelense mantenha a viabilidade da “solução de dois Estados”. 

O governo de direita de Israel descobriu na ofensiva uma fórmula para se manter no poder e o campo liberal – que tem uma representação forte nos Estados Unidos – pede que Biden “salve a democracia israelense”. A divisão ligada à política israelense também acompanha as divisões sobre a Guerra da Ucrânia: os setores liberais se associam ao apoio aos esforços de guerra de Zelensky enquanto conservadores se associaram a posições mais cuidadosas, neutras ou que condicionam o apoio israelense ao Estado ucraniano.

Netanyahu se opôs a entrega dos sistema de defesa antiaérea “Iron Dome” para os Ucranianos. Ele diz que tem relações complexas com a Rússia, citando a presença militar russa na Síria e que não quer um confronto militar com eles, considerações que já apareciam em algumas análises como a de Anna Borshchveskaya em 2022. Avigdor Lieberman, líder de um partido de direita ligado à comunidade de origem russa e ele mesmo com origens soviéticas, irritou os ucranianos com suas declarações em 2022.

Israel tem um vínculo importante para além do impasse na Síria que é a comunidade de origem russa. Mais importante ainda é que uma quantidade considerável de milionários e bilionários russos que os Estados Unidos querem sancionar tem cidadania israelense, sendo alguns deles considerados próximos de Putin, como Leonid Mikhelson e Mikhail Fridman.

Independente do conflito ucraniano, a preocupação da política de Biden é que a ordem internacional seja comprometida por um conflito provocado por Israel ou pela mudança do caráter do seu Estado, que periga dentre outras coisas se converter em uma unidade política ainda mais religiosa. Isso reforçaria uma lógica nacional estranha à ordem liberal e poderia acompanhar uma tendência mais ampla na região, mas isso não quer dizer que os Estados Unidos perderiam sua hegemonia na área – ela poderia ser reestruturada a partir da dominação de estados confessionais.

Balanço dos riscos

Nesse artigo o uso da palavra “aliança”  pode disfarçar uma relação desproporcional – os Estados Unidos ainda abordam esses outros estados como uma força hegemônica. Um dos limites do realismo está no problema da ideia abstrata dos Estados como entes arriscar sustentar uma ilusão de que esses entes são qualitativamente iguais ao jogar seus “jogos de interesse”.

No momento atual, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos ainda são muito dependentes dos EUA e a superpotência pode manipular a rivalidade entre os dois países. Os Estados Unidos contam com várias opções para a sua atuação na região. Essas opções estão disponíveis a nível de Estado mas também se manifestam como diferentes correntes políticas.

É preciso ler a situação tanto em suas características específicas como em sua inserção no panorama global – isto é, o que acontece no Oriente Médio tem uma relação com o que acontece no restante do mundo. As opções políticas dos EUA também estão além da “maximização de utilidade” mas dependem das escolhas que o país faz para sua identidade política e para a sua proposta internacional.

As duas escolhas básicas estão entre ser o guardião de uma ordem global liberal ou a concepção neorrealista que se associou ao governo Trump, uma potência “clássica” que lida com outros Estados em relações bilaterais e projetando força. Ainda existem as variações neoconservadora (“O Novo Século Americano” da era Bush Jr., em que o guardião da ordem vira uma potência ativista dada a ações unilaterais) e isolacionista.

Qual é a prioridade dos Estados Unidos nesse momento?

Combater a Rússia foi uma prioridade pelo menos em parte do governo Obama, o que foi abandonado por Donald Trump, que decidiu pelo relaxamento com a Rússia para escalar contra a China. Obama tinha uma política de contenção conciliadora com o Irã (enquanto sauditas e israelenses queriam enfrentamento), uma política para a Autoridade Palestina e de ressalvas com as políticas mais agressivas de Israel. Essas são alternativas políticas. Os dois governos se esforçaram por soluções que buscassem uma nova ordem no Oriente Médio, de preferência o “desengajamento” de tropas norte-americanas, o que poderia incluir a reafirmação de potências europeias ou a escolha de novos favoritos na região.

Biden não recuou em relação à China, mas assumiu um tom mais conciliador: se sua prioridade já era a Rússia, isso se reforçou com ofensiva de larga escala da Federação Russa contra a Ucrânia.

Se a prioridade é combater a Rússia, os Estados Unidos podem reorientar sua política no Oriente Médio de acordo com esse objetivo e inclusive ter uma postura mais conciliadora com a China e o Irã na região. A situação de fato não é fácil: os Estados Unidos por um lado gostariam que a China ajudasse a isolar a Rússia, mas não querem recuar do Pacífico e em alguns momentos enquadram o confronto com a Rússia como parte de um confronto geral com a China.

É certo que a iniciativa de Putin já abalou toda a ordem geopolítica. Para além desses efeitos, é preciso também considerar a hipótese dos norte-americanos não enxergarem uma possibilidade de vitória ucraniana no conflito contra a Rússia, o que também pode reorientar toda sua estratégia global e isso pode acontecer antes da eleição de um novo governo. A multiplicidade de opções dos EUA é um dos motivos para a incerteza que normalmente acompanha os conflitos políticos.

Já se reporta que ocorrem negociações entre os Estados Unidos e a República Árabe Síria em Oman. Também importante para a questão do conflito com o Irã, é notável que um acordo de compra de gás de Israel pelo Egito não impede o que seria a exportação final de gás israelense para os libaneses – observemos como será a reorganização política do próprio Líbano e possivelmente veremos a mesma tendência conciliadora. 

Os Emirados Árabes Unidos são um Estado muito menor que a Arábia Saudita e mais vulnerável (sobretudo em relação ao Irã), mas que se mostrou capaz e eficiente de servir como uma vanguarda militar. Nesse sentido, pode ser considerado um “aliado de confiança” por sua dependência. A Arábia Saudita, porém, é um Estado maior, com mais território e população, com potencial de desenvolvimento. Os EUA podem desejar que o Reino Saudita se desenvolva como um aliado poderoso, o que trás riscos sobre mais de uma perspectiva: a possibilidade do hegemon armar e fortalecer o aliado que no fim se torna independente, ou o receio de possíveis resultados políticos de fortalecimento saudita (“apoiariam o terrorismo? O que nós queremos fazer com a região?” é a pergunta que se fazem os EUA). Por outro lado, deixar os sauditas de lado é uma aposta perigosa precisamente pelo tamanho do Estado e o seu potencial – por isso uma das respostas seria contribuir com a sua destruição.

Os três atores em questão estão cientes desses riscos. Os Emirados Árabes Unidos têm a consciência histórica de que com a proteção ocidental evitaram se tornar um apêndice dos sauditas. Agora, é a proteção ocidental que garante sua audácia, ao mesmo tempo que eles temem possíveis resultados inesperados dessa lealdade (se tornar um alvo preferencial do Irã). O Reino dos Saud tem a consciência histórica de que o que eles conquistaram pela força foi consolidado pelas intrigas diplomáticas ocidentais para evitar a formação de um Estado pan-árabe e que viraram uma potência regional quando os Estados Unidos se viram em um conflito com o Irã.

Os EUA podem apostar na sua capacidade de se reafirmar como um hegemon dividindo zonas de influência e oferecendo algumas concessões. A superpotência se beneficia e pode até estimular a competição entre os seus clientes, como no caso de Arábia Saudita e Emirados Árabes – os EUA estão oferecendo a mão aos sauditas depois de momentos problemáticos. Isso também inclui uma vontade do governo norte-americano de retomar entendimentos que haviam sido concluídos com o governo iraniano durante o período Obama.

O Irã já foi o “policial dos Estados Unidos” no Oriente Médio, possibilidade que deve causar receio nos poderes do Golfo Árabe. No plano dos riscos, os Emirados temem o Irã, a Arábia Saudita e a oposição interna da Irmandade Muçulmana; os sauditas temem o Irã e a minoria xiita. Os dois países ficaram mais preocupados com uma revolução no golfo árabe a partir do que aconteceu no Iêmen (que historicamente foi a base do nacionalismo e do comunismo árabes ao sul do Iraque).

A Arábia Saudita não é um Estado como o Irã. O Irã tem uma população grande o suficiente, distribuição de recursos o suficiente, uma classe média e centros urbanos desenvolvidos o suficiente para ter um grande exército com uma oficialidade nacional ao mesmo tempo que tem um complexo científico formado por quadros iranianos. A Arábia Saudita não tem uma população tão grande e não desenvolveu tão bem seus recursos humanos, ela já depende muito de engenheiros estrangeiros e seus planos de criar “cidades smart” cosmopolitas só reforçam essa dependência – a única maneira disso dar é tendo garantias de segurança de uma potência como os Estados Unidos. Passaram décadas mais preocupados em controlar a população – mesmo que oferecendo auxílio social e serviços básicos – do que com desenvolvimento humano, que também sofre restrições com o poder da comunidade religiosa, os privilégios da família real e a desigualdade escancarada. O exército reflete a mesma realidade: é subdesenvolvido, mal tem oficialato e dependeram de outros países para fazer a guerra contra o Iêmen. Do ponto de vista armamentista, considerado isoladamente a Arábia Saudita também está atrás da capacidade produtiva do Irã, por isso busca os modernos armamentos dos EUA.

No momento atual, o Irã não é o “gendarme” dos EUA, mas a visão que aparenta dominar o governo Biden até então é de que é necessário conter o Irã e não partir para uma ofensiva contra o país. O Irã estaria ocupado demais combatendo seus distúrbios internos, então os EUA podem economizar suas forças. A outra tendência – anti-iraniana – entende que esse seria o momento de golpear ainda mais forte, o que pode ser muito arriscado enquanto os EUA tentam vencer a Rússia.

Biden evitar a escalada global do conflito através de uma política anti-iraniana é compatível com a ideia dos Estados Unidos como sustentáculo de uma ordem internacional liberal, “multilateral e baseada em regras” , na qual a Rússia seria o pária – uma condução pacífica dos assuntos no Oriente Médio seria uma forma de “governança”.

Do ponto de vista da política interna da República Islâmica, o que os debates perderam de vista com a eleição de Ebrahim Raisi é que o conservadorismo clerical representado por destoa dos nacionalistas que ganharam força no passado ao redor de Ahmadinejad, que estava em prisão domiciliar e com o grupo impedido de disputar as eleições. A reação de um clericalismo à ascensão dos Guardas Revolucionários (através da política externa e do discurso anti-americano) já era prevista antes das eleições e Raisi deveria ser avaliado também por esse prisma, não só pela contraposição entre conservadores e reformistas.

O Irã não se tornou pró-americano, assim como a Arábia Saudita não se voltou decisivamente contra os Estados Unidos. Aqui, cabe evitar a confusão de uma tendência multipolar no mundo atual com a imagem da bipolaridade que marcou a Guerra Fria – o padrão de contatos, alianças e conflitos pode ser mais confuso por ser mais diverso. A ordem internacional que tem os Estados Unidos como força hegemônica não deixou de existir, mas sofreu abalos, fraturas e talvez tenha algumas dissidências.

E se o projeto de ser sustentáculo de uma ordem global institucionalizada oscilar demais, os Estados Unidos ainda têm muita força para se projetar diretamente como um “Estado entre Estados”.

Fontes

Livros citados:

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