A nova aposta dos EUA no Oriente Médio vislumbra a normalização entre sauditas e israelenses. Apesar dessa ideia existir antes do governo Biden, a sua concepção como objetivo foi debatida na mídia ocidental no mês de junho e julho. O sucesso dessa empreitada seria apresentado publicamente como um grande triunfo da paz organizado pela batuta dos Estados Unidos, mas ela passa por um elemento mais importante: um pacto de segurança dos EUA com a Arábia Saudita.

Essa situação nos convida a uma análise mais ampla sobre o atual tabuleiro geopolítico e estratégico do Oriente Médio. O artigo está dividido em duas partes: a primeira se concentra na relação dos sauditas com os Estados Unidos em seus aspectos conflitos nos últimos dez anos, incluindo a competição com a Irmandade Muçulmana e algumas questões de política econômica; a segunda traz a luz elementos importantes sobre a Guerra do Iêmen e o papel da República Popular da China, de Israel, da República Islâmica do Irã e dos Emirados Árabes Unidos em relação a configuração de um novo pacto EUA – Arábia Saudita.

Leia AQUI a segunda parte

Na última semana, dia 27 de julho, na coluna de Thomas L. Friedman no The New York Times, que tem um acesso considerável ao salão oval da Casa Branca: “Um pacto de segurança EUA-Saudita que produz a normalização de relações entre a Arábia Saudita e o Estado judeu – cerceando ao mesmo tempo as relações dos chineses com os sauditas”, escreve Friedman, “seria uma virada de mesa [game changer] para o Oriente Médio, maior que o acordo entre Egito e Israel em Camp David”.

Para Friedman, que entrevistou Biden sobre a postura desafiante de Netanyahu em Israel (bancando uma reforma judicial interna e uma política expansionista), os Estados Unidos estariam oferecendo a possibilidade de um reconhecimento sem precedentes para Israel no mundo islâmico em troca de abrir mão da anexação das Cisjordânia. 

E o que os sauditas querem em troca? Um tratado de segurança mútua “padrão OTAN” em que os Estados Unidos se comprometem em apoiar a Arábia Saudita se ela for atacada, um programa nuclear civil monitorado pelos EUA e o direito de adquirir armas norte-americanas mais avançadas e de nível estratégico (leia-se: aquilo que diz respeito a guerra de mísseis).

Dos sauditas, o que Biden deseja além do reconhecimento de Israel são limites nas relações com a China, fim da guerra do Iêmen (o que já avançou), um pacote saudita “sem precedentes” para órgãos palestinos na Cisjordânia. Em termos de aproximação com os chineses, o que perturbou a política externa dos EUA recentemente foi a indicação da disposição saudita de negociar petróleo usando a moeda chinesa e os acordos com a empresa de telecomunicações Huawei.

Friedman supõe que os Estados Unidos e os próprios sauditas exigiriam dos israelenses um compromisso de jamais anexar a Cisjordânia, voltar para a implementação dos Acordos de Oslo e não aceitar novos assentamentos judeus na região internacionalmente reconhecida como palestina. Essas considerações levantaram duas objeções céticas: Netanyahu não poderia fazer uma concessão tão clara aos palestinos e existem dúvidas se a Arábia Saudita realmente se preocupa com essa exigência.

É possível dizer, então, que semelhante acordo não aconteceria por causa da questão palestina ou aconteceria a despeito dela.

Ao mesmo tempo, se anuncia a realização de uma grande cúpula internacional na Arábia Saudita para se desenhar um plano de paz para o conflito ucraniano, sem os russos.

Antes da coluna de Friedman, no dia 10 de julho Firas Maksad escreveu para o Middle East Institute que Biden deveria repensar sobre a questão, enfatizando a preocupação nuclear – a Arábia Saudita já assinou acordos de cooperação em energia atômica com a China, Rússia, Coreia do Sul, Argentina e França, os Estados Unidos não querem ficar de fora do controle desse processo. Os sauditas estariam dispostos a sacrificar suas credenciais pró palestinas – que já não são as melhores – em troca dos Estados Unidos assentarem a posição do reino como uma “potência média”.

Stephen M. Walt escreveu para a revista Foreign Policy que não vale a pena para os EUA gastar capital político nesse esforço. Como justificativa, ele cita que em primeiro lugar Israel e Arábia Saudita já se aproximaram na prática – o que está correto – e que nenhum estado árabe é ameaça militar para Israel, principal força na região e única com potencial nuclear ofensiva. Em segundo lugar, Walt tece a consideração política de que Netanyahu e o Príncipe Mohammed Bin Salman (MBS, o homem forte do regime saudita) são “dois dos clientes menos gratos” dos Estados Unidos.

A “ingratidão” de Netanyahu seria sua política cada vez mais agressiva apesar de protestos dos EUA, enquanto os sauditas seriam problemáticos por sua neutralidade na Guerra da Ucrânia, a compra de petróleo russo (para revender mais caro) e a aproximação com os chineses seriam motivos para esfriar as relações e não tentar salvá-las, pois para Walt esse comportamento também corresponderia em alguma medida aos interesses nacionais sauditas. No campo da política interna, os dois países não seriam exemplos de democracia e desmoralizam os Estados Unidos, na visão do professor.

Indo na direção oposta das expectativas de Friedman, Walt diz que semelhante acordo serviria somente para “tornar o mundo mais seguro para o apartheid israelense” e que os sauditas não são oposição à “realidade de um-estado”(Israelense na Palestina). Walt é um intelectual neo-realista notório por suas críticas ao intervencionismo e ao patrocínio dos EUA para Israel, enquanto Friedman é um jornalista notório por apoiar Israel mas que recentemente se coloca como uma forte voz do campo judeu liberal contrário às políticas de governo de Netanyahu.

Quando olhamos para apoiadores de uma política agressiva que suporte Israel de forma mais incondicional, vemos um histórico de entusiasmo por políticas de aproximação com a Arábia Saudita.

Os sauditas, Trump e a Irmandade Muçulmana

A aliança dos Estados Unidos com a Arábia Saudita remonta ao fim da Segunda Guerra Mundial e a relação da dinastia com os ocidentais vem desde o início do século XX. Depois da guerra, os Estados Unidos primeiro viram na Arábia Saudita uma fonte de petróleo, depois assumiram a herança da hegemonia britânica e, no contexto da Guerra Fria, a Doutrina Eisenhower considerou uma prioridade contrapor ativamente o avanço de movimentos comunistas e nacionalistas na região. Essa proximidade, no entanto, passou por renovações e questionamentos na última década.

Nem todos em Washington são simpáticos com a dinastia saudita, que por sua vez não poupa recursos para garantir a existência de um lobby favorável a seus interesses.

Em julho de 2022, a revista Foreign Policy publicou um artigo de John Hannah defendendo que Biden retome a Doutrina Carter (formulada por Zbigniew Brzezinski) que prevê que “qualquer tentativa de uma força externa ganhar controle do Golfo Pérsico vai ser entendida como um assalto aos interesses dos Estados Unidos”, o que efetivamente foi um salto na relação dos Estados Unidos com a Arábia Saudita e se fortaleceu após a Revolução Iraniana. 

A doutrina se converteu em praticamente um princípio de Estado e implicou na militarização do Golfo. A lógica de Hannah para Biden é simples: existe uma disputa global com a Rússia pelo mercado de energia, Irã é o maior inimigo, Israel precisa ser protegido, o Reino Saudita e os Emirados tiveram pequenas aproximações com a Rússia e com a China, portanto é necessário reparar e consolidar a aliança com os sauditas. John Hannah foi conselheiro de Dick Cheney e é ligado a Foundation for Defense of Democracies (FDD) e ao Jewish Institute for National Security of America (JINSA).

Os sauditas foram peça fundamental na condução de uma política contrária à Revolução Islâmica do Irã (que ameaçava a estabilidade da própria monarquia) e, mais ainda, no sistema que fomentou uma jihad internacional contra os comunistas apoiados por tropas soviéticas no Afeganistão. Apesar da Doutrina Carter e seu “Corolário Reagan” terem sido pensadas em tese para a Guerra Fria, a militarização da região avançou nos anos 90, o que seria impossível sem os sauditas, que apoiaram diretamente a primeira invasão norte-americana ao Iraque (1991).

A participação no sistema jihadista seria a semente de uma contradição com os Estados Unidos a partir do momento que a super-potência elegeu o terrorismo como inimigo. Apesar de sua participação no ataque contra Saddam Hussein em 1991, os sauditas não tiveram pena concordância com a invasão norte-americana em 2003 (temiam a desestabilização e viam que isso poderia beneficiar o Irã, como de fato aconteceu; Washington por outro lado julgava que a alternativa saudita de apoiar um golpe militar contra Saddam Hussein havia fracassado).

Essa contradição se desenvolveria a partir do início da “Primavera Árabe”, em que os Estados Unidos buscaram uma política ativa de envolvimento com as forças de mudança de regime na região mas tiveram reveses geopolíticos na Síria e, em menor escala, no Iraque.

A princípio, a “política revolucionária” fortaleceu a Irmandade Muçulmana, que fazia oposição ao regime saudita. Os sauditas ressentiam que os Estados Unidos tivessem abandonado Hosni Mubarak no Egito, em prol da Irmandade e criticaram publicamente os Estados Unidos por conversas com o Irã e vacilar em relação à Síria em 2013 . Os movimentos armados da Síria ligados á Irmandade foram substituídos por salafistas, pela Al Qaeda e pelo “Estado Islâmico”, o que contou com alguma participação da influência saudita.

Como resultado inesperado da guerra na Síria, ocorreu o fortalecimento do chamado “Crescente Xiita” apoiado pelo Irã, o que em última instância ameaçava a estabilidade do reino saudita, que tem uma considerável minoria xiita oprimida em seu território, na sua maior parte concentrada nas províncias orientais mas com expressões sociais importantes também no sul. No Bahrein, a maioria xiita (70% da população) serviu de base para um movimento revolucionário contra a casa real sunita, que foi suprimido por uma intervenção militar saudita.

No Iêmen, uma revolução colocou xiitas zaiditas do movimento Houthi em primeiro plano e em março de 2015 os sauditas iniciaram uma grande campanha militar contra o país, criticada por seus efeitos humanitários devastadores. O ano de 2015 também foi o ano da entrada dos russos na guerra da Síria ao lado de Bashar al-Assad, consolidando o cerco ao reduto rebelde no norte de Aleppo, que foi tomado em 2016.

Pelos fatores elencados acima, os sauditas poderiam ser designados como responsáveis  “terrorismo e o caos no Oriente Médio” pelos Estados Unidos (e em 2015 a inteligência alemã foi a pública fazer acusações nesse sentido) , além de incapazes de combater a influência iraniana (que teve um ápice de legitimidade internacional combatendo o Estado Islâmico e outros terroristas).

No ano de 2016, Christopher Davidson publicou em seu livro Shadow Wars – The Secret Struggle for the Middle East, que expõe as políticas cambiantes dos Estados Unidos para dirigir uma “revolução árabe” e, em sua parte final, se coloca entre aqueles que cogita a possibilidade da Arábia Saudita ser a “próxima vítima” de uma intervenção norte-americana. O autor nos lembra que já em 2004 um livro sobre “como conduzir a guerra ao terror” escrito por Richard Perle (um dos “mentores” da invasão do Iraque) e David Frum (autor dos discursos de Bush filho) já mencionava a possibilidade de eventualmente apoiar um distúrbio xiita no reino saudita; Davidson também enumerou outros momentos em que isso apareceu entre analistas e oficiais dos EUA.

A tensão entre sauditas e a administração Obama aumentou em 2015. O “Acordo Nuclear” (Joint Comprehensive Plan of Action) com o Irã se concretizou entre maio e julho de 2015, abrindo o potencial de um novo acerto entre as relações dos EUA com os iranianos. O preço do petróleo caiu e os sauditas começaram a lidar com o risco de uma crise econômica, tendo uma economia dependente do petróleo, pouco produtiva, que destinava uma parte considerável dos seus recursos para serviços públicos gratuitos e agora outra parte para exercer sua projeção militar na região. A situação política criou uma preocupação no governo saudita que efetivamente aumentou os gastos sociais para prevenir efeitos revolucionários do descontentamento. Os EUA, o FMI e analistas ocidentais começaram a dizer que o país “quebraria” em cinco anos ou menos (DAVIDSON, 2016, p. 519).

A mensagem ocidental era clara: os sauditas deveriam se preocupar e, na economia, realizar privatizações, a começar por vender ações no mercado da petroleira estatal ARAMCO. Os sauditas esboçaram alguma reação com ameaças de vender títulos da dívida dos Estados Unidos ou de desvincular a sua moeda do dólar (o que não era só uma “ameaça geopolítica”, mas uma possibilidade para lidar com a inflação, o que já tinha sido feito pelo Cazaquistão; DAVIDSON, 2016, p. 522-23). Ataques ao papel dos sauditas no Oriente Médio se multiplicaram em jornais dos EUA e o Senado passou uma lei em 2016 permitindo que famílias de vítimas do atentado do 11 de setembro processassem o estado saudita.

Eventualmente os sauditas cederam, anunciando privatizações na sua indústria elétrica e abrindo a ARAMCO para o mercado em 2019. Essas mudanças foram acompanhadas por uma mudança de poder, que se concentrou cada vez mais nas mãos do príncipe Mohammed Bin Salman. Salman, aconselhado por consultores ocidentais de empresas como McKinsey, anunciou uma “nova visão econômica”; o príncipe sinalizou na direção de reformas morais e religiosas, tentando se apresentar como um campeão do “Islã moderado”, dizendo que o regime saudita foi muito rígido nos anos que o precederam, o que atraiu a celebração de alguns comentaristas ocidentais.

Na nova tabela da Fortune que elenca as maiores empresas do mundo, a Saudi Aramco aparece com um valor superior a 2 trilhões de dólares, com lucro líquido de 159 bilhões de dólares – a empresa mais lucrativa do mundo, no momento. O Fundo de Investimento Público (Public Investment Fund – PIF) tem ativos de mais de 700 bilhões de dólares, a maioria na Arábia Saudita mas com uma parte importante no exterior (40%). Investindo em pequenas porcentagens de empresas do mundo, em áreas diversas como bancos, energia, tecnologia e entretenimento. Se destacam as empresas de jogos Electronic Arts e Activision, além de uma parte da empresa Uber. No setor de mídia, o MBC Group saudita assinou uma parceria milionária com a Vice News no início de 2023, que em maio entrou na justiça para se declarar falida. Os sauditas também possuem grande parte da Lucid Group, empresa dos EUA que produz carros elétricos e deve fabricá-los no território do próprio reino, que pretende usá-los em seus planos de substituição energética. O PIF também está nos esportes e, para além da aquisição de clubes de futebol, transformou o golfe profissional, usando dinheiro para fundir federações historicamente rivais. Em julho, Amin Nasser – CEO da Aramco – foi escolhido para compor a mesa diretora da BlackRock.

Essa transformação no regime saudita teve sua contraparte na mudança da presidência dos Estados Unidos, que venceu as eleições em 2016 e começou seu governo em 2017.

A administração Trump redirecionou a política dos Estados Unidos na região do Levante e do Golfo Arábico, se afastando da política representada pelo levantamento rebelde na Síria – o que implicava em aproximação com forças políticas de alguma forma associadas a Irmandade Muçulmana – em prol de uma política de busca de aliados estatais com forças militares permanentes, o que efetivamente culminou no reforço militar da Arábia Saudita (vide os acertos bilionários de armas em 2017 e 2019).

As mudanças em relação à Síria se iniciaram no governo Obama mas, diferente de Obama, Trump assumiu uma política de retomada da oposição feroz ao Irã e de apoio ao governo de Israel.

Para ter essas mudanças em perspectiva, a questão da Irmandade Muçulmana é um ponto de inflexão. Algumas tendências da política dos Estados Unidos consideram a organização positiva em maior ou menor grau, como uma força até mesmo democrático-reformista ou digna de algum tipo de engajamento por razões estratégicas (não cabe aqui discorrer sobre a longa história dos EUA com o islamismo, mas podemos nos referir na discussão realizada pelo Hudson Institute nos textos “The Muslim Brotherhood’s U.S. Network” e “The Unfinished History Between America and the Muslim Brotherhood”; Dania Khatib em 2018 fala de prática de lobby favorável à organização). Outras tendências, porém, mantém desconfiança ou vão além, vendo a organização como terrorista.

Essas duas tendências gerais disputam abertamente a política dos Estados Unidos. A prestigiada revista do Council of Foreign Affairs publicou artigo em maio de 2019 que dizia no seu título e subtítulo que a Irmandade Muçulmana não é uma organização terrorista e que se Trump a designasse dessa forma ele estaria ferindo os Estados Unidos. A fundação Carnegie também disse que tal decisão seria um “erro”, inclusive por sua associação com a Arábia Saudita. O editor-em-chefe da revista Politico chegou a assinar um texto na publicação falando de um memorando da CIA que enxergava a medida como “combustível para o extremismo”.

Por outro lado, o candidato presidencial e senador da União, o republicano Ted Cruz há anos luta por uma lei de designação da organização como terrorista.

Por seu envolvimento com a lei anti-Irmandade, um aliado de Ted Cruz na Câmara dos Deputados e também Republicano, Mario Diaz-Balart, teria sido alvo de uma “operação de influência” conduzida por um ex-agente da CIA que se tornou consultor e passou a trabalhar para o governo do Qatar. Segundo a AP, isso estaria sendo averiguado por uma investigação do FBI sobre práticas de lobby.

O Qatar possui uma relação histórica com a organização e foi uma de suas principais bases de apoio durante os anos da chamada “Primavera Árabe”, tanto no contexto da mudança de regime do Egito como na guerra da Síria. Outro país importante para a organização, inclusive como fonte de inspiração, era a Turquia de Erdogan e as relações dos EUA com os turcos também pesavam na balança.

Do outro lado, porém, estavam os Emirados Árabes Unidos e o Reino da Arábia Saudita. A Irmandade Muçulmana é um movimento de oposição mais ou menos vigoroso nesses países, e muitas das vozes que tratam a organização positivamente no ocidente o fazem por esta oferecer uma alternativa às monarquias autocráticas desses países (ou mais ou menos autocráticas).

Considerar posições como a da pesquisadora Courtney Freer pode ajudar a pensar na Irmandade Muçulmana como uma espécie de “oposição burguesa” que se fortaleceu na sociedade civil e com forte apoio de negócios nesses países, o que justifica o sentido de ameaça dos regimes bem como a simpatia em alguns círculos da política externa dos EUA.

Já quando Ted Cruz fala de seguir a linha dos aliados e considerar a Irmandade um grupo terrorista, ele se refere à Israel, aos Emirados e ao Reino Saudita.

Após a queda de Hosni Mubarak no Egito, a Irmandade Muçulmana venceu as eleições com o candidato Mohammed Morsi, derrubado em julho de 2013 por um golpe militar que catapultou o general Abdul Fatah Khalil Al-Sisi ao poder – o golpe foi apoiado pelaArábia Saudita. Em seguida, a Irmandade Muçulmana da Síria parecia estar a frente da face política e militar da guerra contra o governo de Bashar al-Assad, mas foi gradualmente substituída nesse papel por grupos salafistas (ainda mais conservadores, como Jaysh al-Islam e Ahrar al-Sham) diretamente apoiados pelos sauditas ou grupos jihadistas com financiadores no país (Frente Nusra e “Estado Islâmico”).

Em junho de 2017, a Arábia Saudita começou uma ofensiva política e diplomática contra o Qatar, junto dos Emirados Árabes, do Egito e do Bahrain, incluindo a instituição de um bloqueio econômico – vale lembrar que o único acesso por terra ao Qatar é pela Arábia Saudita. Essa ofensiva foi logo depois da visita de Donald Trump ao país em maio daquele ano para a Cúpula de Riyadh.

A reconciliação entre sauditas e qataris veio em 2021 no início do governo Biden. O bloqueio não serviu para isolar o Qatar ou para aumentar o isolamento do Irã. Pelo contrário, ambos se aproximaram da Turquia, que também deu algumas demonstrações de maior independência em relação aos Estados Unidos. Em maio de 2023, os sauditas retomaram relações com a República Árabe da Síria.

Nesses anos, a concentração do poder nas mãos do Príncipe Mohammed Bin Salman foi acompanhada por uma onda repressiva contra elementos do topo do regime saudita – parentes do príncipe – e dissidentes dentro e fora do país. Jamal Khashoggi, jornalista que trabalhava para o The Washington Post, foi morto no consulado saudita em Istambul, na Turquia, em outubro de 2018. Khashoggi tinha vínculos com a Irmandade Muçulmana e seu brutal assassinato fortaleceu a oposição ao regime saudita no discurso público ocidental, que se misturou na onda de críticas ao governo Trump.

Também foi no ano de 2018 que os Estados Unidos chegaram na posição de maior produtor de petróleo.

O ponto da articulação estratégica na administração Trump consistia na crença de que seria possível fazer guerra contra o Irã de forma mais eficiente por esse caminho, o que também incluiu a opção por oferecer apoio político menos condicional ao governo de direita de Israel. Trump reconheceu Jerusalém como “capital de Israel” apesar da comunidade internacional e reconheceu o território sírio das Colinas de Golã como parte de Israel.

Não só Biden carregava conselheiros políticos com outra abordagem em relação a Israel e a paz no Oriente Médio, como sua eleição ocorreu em um momento em que direita israelense parecia em crise – Netanyahu começou a ser julgado por crimes como aceitar subornos e fraude em maio de 2020, e Benny Gantz governou o país entre maio de 2020 e junho de 2021.

Biden disse em um debate presidencial que iria tratar os sauditas como os “páreas” que são e que puniria o assassinato de Khashoggi. No início do seu governo, anunciou o fim de qualquer apoio norte-americano às operações ofensivas sauditas no Iêmen.

Tabuleiro da guerra global: da Rússia ao Oriente Médio

O jogo da geopolítica pode ser complexo. Em um período em que se iniciou uma guerra convencional da Rússia contra forças ucranianas apoiadas pela OTAN e em que a China parece competir de forma mais aberta com os Estados Unidos, a simplicidade do confronto direto pode tirar nossa atenção de processos mais sutis porém não menos importantes.

Em junho de 2022, o ultraje de Biden com os “páreas” deu lugar a uma reaproximação, com direito à visita do chefe de estado norte-americano e elogios aos “esforços positivos para terminar o conflito no Iêmen”. O governo justificou o movimento chamando os sauditas de parceiros importantes no combate ao terrorismo e já especulando com um reconhecimento saudita ao Estado de Israel – na mesma época, o ministro das relações exteriores saudita fez um gesto nessa direção no Fórum Econômico Mundial em Davos, colocando a resolução da questão palestina como condição.

Quanto ao assassinato de Khashoggi, os Estados Unidos teriam feito sua parte publicando um relatório expondo responsáveis e impondo sanções a algumas pessoas associadas ao acontecimento (e MBS naturalmente não está entre essas pessoas). A justificativa final dos norte-americanos seria pragmática: é necessário buscar apoio depois da operação russa na Ucrânia e é impossível não lidar com a Arábia Saudita devido aos efeitos dessa guerra nos mercados energéticos.

A Arábia Saudita, no entanto, deu às costas ao que havia combinado com os norte-americanos em junho, de que a OPEP aumentaria a produção de petróleo para reduzir os preços (o que teria um impacto positivo no preço da gasolina nos EUA). O que aconteceu foi justamente o contrário e Biden disse que haveria “consequências“, o que foi acompanhado por declarações estrondosas de outros políticos – faltou combinar com os russos, já diria o ditado iniciado por Garrincha.

A questão energética também motivou um apaziguamento das relações com a Venezuela, que já sofre com sanções desde o governo Obama. Ainda assim, é justo lembrar que os Estados Unidos se tornaram líderes em fornecimento energético com a guerra na Ucrânia. No caso saudita, existem outros fatores.

Leia também: Nova aposta dos EUA no Oriente Médio? [Parte 2]

Fontes


Livros citados:

DAVIDSON, Christopher. Shadow Wars – The Secret Struggle for the Middle East, Londres: Oneworld, 2016

MURPHY, Dawn C. China’s Rise in the Global South – The Middle East, Africa and Beijing’s Alternative World Order, 2022.

Links:

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https://www.egic.info/why-have-us-attempts-to-designate Why Have US Attempts to Designate the Muslim Brotherhood as a Terrorist Organization Failed?
(sobre lobby)

https://www.middleeasteye.net/opinion/whats-so-scary-about-muslim-brotherhood What’s so scary about the Muslim Brotherhood?, 01/08/2018

https://carnegieendowment.org/2018/05/18/brothers-in-alms-salafi-financiers-and-syrian-insurgency-pub-76390 Brothers in Alms: Salafi Financiers and the Syrian Insurgency, 18/05/2018

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https://www.nytimes.com/2022/06/02/us/politics/biden-saudi-arabia.html Biden to Travel to Saudi Arabia, Ending Its ‘Pariah’ Status, 02/06/2022

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