A Rússia anunciou que ocorreu um ataque de infiltrados na região de Bryansk. A Ucrânia negou dizendo que se trata de uma “provocação russa”.

Nesse momento aparece a figura do neonazista Denis Nikitin, nascido em Moscou mas que se juntou ao Batalhão Azov no início da guerra e criou as Forças Voluntárias Russas para ajudar seus companheiros na Ucrânia.

Porém não é a primeira vez que ocorrem ações no território russo e ucranianos já reivindicaram esses ataques antes.

Ontem o escritor ultra -nacionalista Dmytro Korchinsky compartilhou na sua rede social a divulgação do velório de sete membros de sua organização que morreram fazendo infiltrações em Bryansk. O evento deve ser em uma grande catedral de Kiev.

Post de Korchinsky nas redes sociais

Não ficou claro quando eles morreram e é improvável que tenha sido nessa última ação.

Daniel Boffey, repórter chefe no The Guardian, fez uma matéria com o grupo de sabotadores de Korchinsky no dia 4 de fevereiro. Curiosamente, ele chama de “tropas especiais formadas por civis”, diz que o nome delas é Bratstvo, sem mencionar que este é o movimento liderado por Korchinsky. O canal Crux também fez uma matéria sobre o grupo sem mencionar esse detalhe. Matérias que celebraram a “libertação” de vilas por “forças voluntárias” do Bratstvo no passado também não trataram disso, como o de The Squire falando da batalha por Nova Basan.

Carlotta Gall, uma repórter do New York Times, acompanhou uma missão de reconhecimento e sabotagem noturna do Batalhão Bratstvo, fazendo uma narrativa algo heróica mas sem informações sobre o grupo – “No rio a noite, emboscando russos”. A reportagem descreve como eles rezam antes de atuar e que a esposa do comandante, que também toma parte na ação, tem um status mítico. O comandante Alex Serediuk é citado mas suas visões ou participação no Batalhão Azov não são expostas. Em uma das fotos um voluntário aparece com dois patchs no peito que seguem o padrão SS na Segunda Guerra: uma caveira com a inscrição “Got min uns” e o símbolo da divisão SS Galícia (voluntários ucranianos na Segunda Guerra).

O Bratstvo é um movimento criado por Dmytro Korchinsky, que foi uma liderança da organização banderista UNA-UNSO, que enfatiza ser uma comunidade religiosa radical. Korchinsky se apresenta como filósofo de um “cristianismo puro”, tendo sua própria “escola de filosofia” que vende cursos na internet; os rituais e procissões do Bratstvo fazem o grupo parecer uma seita a parte das igrejas. Antes seu braço militar se chamava “Batalhão Santa Maria”, mas em fevereiro de 2022 anunciaram a criação do Batalhão Bratstvo na página do próprio movimento e continuaram usando a mesma estética do movimento.

Korchinsky anuncia a formação do Batalhão Bratstvo na rede social do movimento

O Intercept publicou uma matéria em 2015 em que Korchinsky disse uma de suas falas favoritas: de que sua pretensão era criar um “Taliban cristão”.

O tema também aparece em matéria publicada na Al Jazeera em 2015. Um dos comandantes diz que o inimigo são “as forças da escuridão mas nossos soldados são os que trazem as tradições europeias e a mentalidade cristã do século XIII”, que eles são a a luz e que “os apoiadores de Putin são os representantes do diabo”.

Outro comandante entrevistado, Alex Serediuk, é ex membro do Batalhão Azov e, segundo os repórteres, “não deixou por conta das conexões com neonazistas” mas porque se incomodou com a falta de religiosidade.

O que é mais importante nessas matérias, para além das declarações ideológicas, é que os membros confessam uma atuação independente do Estado Ucraniano e independente das conversações de paz que ocorriam em 2015.

O que existe em comum entre as matérias de 2015 e 2023 é que em ambos os casos se reconhece a existência de um grupo armado radical, anti-russo e independente do Estado Ucraniano. Cabe avaliar a disposição destes em cometer atos terroristas contra civis, o que seria justificado pelo banderismo.

E se Korchinsky é um provocador russo, como alguns gostariam de sugerir, o Estado Ucraniano já podia ter se livrado dele, já que ele está na Ucrânia e inclusive dá entrevistas para redes de TV. Também mantém vínculos com separatistas do Cáucaso.

Korchinsky também já fez comentários diversos sobre judeus que normalmente chamariam a atenção da mídia ocidental – inclusive contra Zelensky e afirmando que a maioria dos oligarcas ucranianos são judeus sem interesse na nação.

O jornalista do The Guardian não parece tão curioso, mas sua matéria que tem uma frase sobre matar russos no título e um tom ameno em relação aos sabotadores não impressiona comparado com o resto do seu trabalho, que está mais voltado para os ucranianos. Uma pena que muitos não considerem isso uma inclinação, mas situação “natural” que é encoberta pelo véu do alto jornalismo profissional na mídia do Ocidente.

Fontes

https://www.instagram.com/p/CpUojkUoQcm/?igshid=YmMyMTA2M2Y=

https://www.theguardian.com/world/2023/feb/04/ukraine-special-forces-russia-border

https://www.esquire.com/news-politics/a39651567/nova-basan-ukraine-military-photos/

https://www.nytimes.com/2022/11/21/world/europe/ukraine-russia-war-river.html

https://www.instagram.com/tv/CaX1dPOAPz5/?igshid=YmMyMTA2M2Y=

https://books.google.com.br/books/about/Stepan_Bandera_The_Life_and_Afterlife_of.html?id=SFH_BgAAQBAJ&redir_esc=y

https://theintercept.com/2015/03www.aljazeera.com/amp/features/2015/4/15/christian-talibans-crusade-on-ukraines-front-lines

https://www.aljazeera.com/features/2015/4/15/christian-talibans-crusade-on-ukraines-front-lines

https://lenta.ru/news/2019/06/20/krugom_odni/

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