AFRICOM é o nome do Comando dos Estados Unidos para a África. Foi criado por George W. Bush com uma forte ênfase em “fins humanitários” como a proteção de recursos hídricos e auxílio em desastres. Como o nome e a missão indicam, o AFRICOM serve antes de tudo para proteger os interesses norte-americanos na África – os interesses estratégicos e econômicos (especialmente o petróleo). A doutrina militar norte-americana reconhece que atualmente o “perigo” não reside mais em grandes Estados do que em Estados falidos, fontes de instabilidade política. As operações de “caráter humanitário” são uma contraparte a presença militar oferecida aos países africanos e uma tentativa de ganhar “corações e mentes”.

Militarmente o AFRICOM é bastante ativo (operações especiais, operações de captura, “search and destroy”, ataques aéreos e de drones), mas teve um papel especial na guerra contra a Líbia. O seu papel e sua rejeição por parte de lideranças africanas faz com que seja constantemente julgado como uma militarização que afeta a soberania dos países do continente, além de não trazer ganhos humanitários. É importante também salientar o contexto de massivos investimentos chineses na África (que os norte-americanos e europeus simplesmente não podem fazer – grandes obras, infraestrutura, etc). Uma “guerra ao terror” pode somente gerar mais instabilidade, aprofundar a cultura de violência e portanto afetar as operações chinesas na região.

O AFRICOM COMO NEGÓCIO

Na obra “A Segunda Guerra Fria”, Moniz Bandeira discorre sobre alguns interesses econômicos que permeiam o AFRICOM em si:

“O AFRICOM não possuía nenhum batalhão dos Marine Corps em suas bases desde que fora criado pelo presidente George W. Bush, em 2007. Suas atividades eram realizadas pelos private military contractors (PMCs), i.e., pelos mercenários da DynCorp International e outras, que propiciavam apoio logístico e o treinamento militar para as forças armadas africanas, a um custo de US$ 100 milhões, dentro do programa African Contingency Operations Training and Assistance. A DynCorp obtivera contrato de US$ 20 milhões para sozinha dar suporte em operações e manutenção dos quartéis Edward B. Kessely Barracks e Camp Ware, na Libéria. Outras companhias, inclusive a PAE Government Services (subsidiária da Lockheed Martin) e a Protection Strategies Inc., receberam contratos – cada uma – no valor de US$ 375 milhões e a KBR Inc., antiga subsidiária da Halliburton, foi contratada para dar apoio a três bases militares em Djibuti, Quênia e Etiópia usadas pela U.S. Combined Joint Task Force-Horn of Africa. A Northrop Grumman, por sua vez, foi contemplada com US$ 75 milhões para treinar 40.000 peacekeepers africanos ao longo de cinco ano, e a MPRI (Military Professional Resources Inc.), divisão da L-3 Communications, o Departamento de Estado contratou para treinar militares no Benin, na Etiópia, em Gana, no Quênia, no Mali, no Malawi, na Nigéria, em Ruanda, no Senegal, bem como para prover assistência às forças armadas da África do Sul.”

“O segundo fenómeno que levou a formulação do AFRICOM é o aumento dos interesses econômicos norte-americanos na África. O comércio entre os Estados Unidos e os países da África cresceram firmemente nos últimos anos, de mais de $3o milhões em 1997 paramais de 140 milhões em 2008. (…) o elemento mais importante nessa relação comercial são os recursos energéticos.” (John R. Deni, inFocus Quartely Summer 2013)

Fontes

Luiz Alberto MONIZ BANDEIRA,  “A SEGUNDA GUERRA FRIA – GEOPOLÍTICA E DIMENSÃO ESTRATÉGICA DOS ESTADOS UNIDOS – Das rebeliões na Eurásia à África do Norte e ao Oriente Médio”, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2013. pg. 315

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