A Romênia, como boa parte dos países não-soviéticos da Europa do Leste, foi um país socialista que possuía políticas econômicas que podem ser consideradas como “moderadas”, com alguns mecanismos de mercado e coisas desse tipo; para os comunistas não era a rigor um modo de produção socialista e estava mais longe do mesmo que a União Soviética, por exemplo. De qualquer forma, era uma economia planificada dirigida pelo Estado sob a liderança de um partido comunista. Os níveis de consumo eram altos relativo aos Balcãs. O país também teve problemas com dívida externa que se expressaram principalmente nos anos ’80. Como os outros países do leste, a Romênia foi em muitos aspectos destruídas pela restauração do capitalismo.

O texto foi traduzido do espanhol do site http://imbratisare.blogspot.com.br/

Uma nova pesquisa (de uma instituição anticomunista) mostra a crescente valoração do passado socialista entre os romenos


61% dos romenos consideram que o comunismo hoje [2010] seria uma boa ideia, frente a 53% de há quatro anos atrás, segundo a última sonda realizada pela empresa de estudos sociológico CSOP, apesar de ter sido realizada em colaboração com o Instituto de Investigação dos Crimes do Comunismo e da Memório do Exílio Romena (instituição criada pelos golpistas de 1989 para construir a propaganda ideológica necessária para criminalizar o comunismo).

Mais da metade da população afirma que antes de 1989 se vivia melhor do que hoje, ao passo que só 23% afirmam que era pior. Igualmente a porcentagem dos que afirmam que Ceausescu no geral fez pelo país é de 25%, frente a 15% que crê que seu trabalho foi negativo para Romênia.

Abaixo alguns dos principais dados da sonda:

– A percepção dos romenos acerca do comunismo é muito positiva e 61% destes consideram
atualmente o comunismo uma boa ideia, frente a 53% de 4 anos atrás. Assim a tendência vai subindo, e parece que a propaganda anticomunista é cada vez menos eficaz entre os romenos.

Há quatro anos um estudo similar mostrava que 12% dos romenos consideravam o comunismo uma boa ideia bem aplicada, 41% uma boa ideia mal aplicada e 34% uma má ideia e ponto (de qualquer forma já há quatro anos estes já eram minoria). Hoje, 14% pensam que foi uma boa ideia que foi bem aplicada, 47% que foi uma boa ideia mal aplicada 27% pensam que foi uma má ideia, o que mostra a tendência de abaixar o número daqueles que mordem o anzol da propaganda anticomunista.

– Metade da população romena afirma que antes de dezembro de 1989 se vivia melhor do que hoje em dia, sendo que 23% consideram o contrário, que se vivia pior, e 14% pensam que era igual.

O motivo principal dos entrevistados argumentaram para explicar porque era melhor antes do golpe de estado de dezembro de 1989 são os seguintes: havia trabalho para todos (62%), o nível de vida (26%) e o direito a moradia (19%), quer dizer, a garantia de direitos sociais básicos sob o socialismo.

Ao contrário, os principais motivos mencionados pela minoria que evalua negativamente o comunismo são os típicos vendidos pela propaganda midiática: a ausência de liberdade de modo genérico (69%), a pobreza e ausência de informação (11%). Por supsto não se opinia sobre a existência ou  não de liberdade real na ditadura do capital e sobre o grau de pobreza atual, que supera o imaginável antes de 1989.

[RP: Dados sobre a composição de classe, localidade e da situação em geral dos entrevistados  seriam de grande valia, porém podemos deduzir algumas coisas a partir destas respostas.

Possivelmente os que acham era igual eram pequenos proprietários ou funcionários pouco  afetados pela crise nos anos ’80 e que também não tiveram problemas também com a queda do socialismo.

É muito provável que boa parte daqueles que dizem que a vida era melhor no comunismo foram os que enfrentaram problemas como o desemprego e aluguéis de moradia após 1989. É importante notar, também, como essa visão concreta que se concentra em fatores concretos se contrapõe aos argumentos daqueles que dizem que era “pior”, apelando para a “liberdade” genérica e a “pobreza” para justificar sua posição, afinal precisam de uma justificativa geral e plausível para suas preferências e repulsa. Quem se beneficiou do capitalismo certamente não quer a volta do comunismo e dirá esse tipo de generalidade por não ter uma referência concreta de “problema” como aquele que passou pelo desemprego ou outros problemas reais no pós-queda. Ao contrário dos que responderam positivamente e podem tirar seus argumentos da experiência (emprego, casa), os que se beneficiaram podem recorrer a alguma generalidade, de preferência uma de significativa reverberância. Não só para os mais beneficiados, mas para aqueles que estão numa condição de classe média alta com um bom acesso a bens de consumo, “pobreza” deve ser algo que faz sentido de se falar. Essa minoria da minoria que usou a “pobreza” como argumento demonstrou uma dissonância cognitiva ou um déficit de atenção, porque é válido lembrar que estamos tratando de uma comparação entre o “antes” e “depois”, e a pobreza só aumentou ostensivamente após a queda do socialismo. Do ponto de vista geral, o argumento da pobreza é inválido – talvez faça sentido do ponto de vista subjetivo destes que enriqueceram etc. Por fim, fato é que essas respostas discrepantes (os benefícios sociais concretos vs. noção genérica de liberdade) indicam diferentes origens de classe nos entrevistados. ]

Em comparação, num estudo realizado em 2009, 72% dos hungaros declararam que viviam pior hoje do que no período socialista, como os 62% dos búlgaros e ucranianos, 42% dos lituanos e eslovacos, 45% dos russos, 39% dos checos e 35% dos polacos. [RP: O irônico é que a Polônia socialista estava melhor do que alguns desses países]

– Entretanto, o número dos que consideram que o regime comunista foi criminoso é mais do que os que não crêem assim (41% frente 37%), mesmo que tão pouco se pergunte que se opine a respeito do capitalismo criminoso.

Igualmente, o regime comunista é visto como “ilegitimo” por 42%, sendo que 31% crê no contrário (há de se levar em conta que a historiografia romena tem se dedicado desde 1990 a construir uma verdade histórica adequada ao golpe de estado: que os governos comunistas conseguiram o poder na Romênia através da fraude eleitoral e das imposições de Moscou, sendo assim, na falta de uma investigação objetiva sobre os acontecimentos reais, essa percepção é lógica).

[RP:  “Ok, tudo bem, houveram crimes, mas a vida era boa!”, esse é um fenómeno psicológico e argumentativo recorrente nos mais diversos temas. É um caminho mais fácil (tanto no campo psicológico quanto no campo do debate) do que contrapor as acusações e ocorre muito no caso do socialismo; despreparado e pressionado o sujeito precisa justificar de alguma maneira seu apego ao regime: “cometeu crimes, mas pelo menos tinha seguridade social”, “Fidel Castro pode ter feito isso, mas trabalhou para o povo”, etc.

O autor fez uma observação sobre a ausência de uma pergunta parecida sobre o novo regime, afinal a pesquisa pretende fazer uma comparação.]

– No que se refere aos atributos que definem o comunismo, 46% consideram que são muito positivos, ao passo que somente 32% os consideram negativos, 5% são neutros.

Os aspectos favoráveis do comunismo são, segundo as respostas mais repetidas: seguridade do
trabalho, segurança tendo em vista o dia de amanhã, uma vida digna e igualdade entre indivíduos.

– Quanto a percepção dos líderes comunistas, Nicolas Ceausescu e Gheorghe Gheorghiu-Dej, o primeiro mais conhecido, como é lógico, por ser mais recente, ainda que o segundo tenha uma melhor imagem.

A porcentagem dos que creem que Nicolas Ceausescu fez muito para a Romênia é maior do que creem que não (25% frente 15%). A maioria dos romenos creem também que os livros de história deveriam mostrar também os aspectos postivios dos governos socialistas, ao invés de remarcar somente os negativos como fazem atualmente.

– Quanto a repressão no comunismo, somente 13% dos participantes dizem ter sofrido pessoalmente ou através de amigos ou familiares, e esta minoria disse que a principal forma em que isso se manifestou foi através de penúria alimentar e falta de serviços (47%) e o que eles entendem como um ataque aos direitos humanos quando falam de requisição e confisco de bens.

Em conclusão, o estudo mostra uma tendência generalizada há anos em toda Europa do leste de recuperação da memória histórica, quer dizer, de superar a constante e repetitiva propaganda anticomunista para julgar por si mesmos a realidade. Neste caso é evidente que, com o mero exercício da comparação, o resultado é que, inclusive aqueles que em 1990 tinham esperanças de um futuro paradisíaco como prometiam os golpistas, a população cada vez mais verifica a redução dos direitos sociais e do nível de vida anterior a 1989, para a surpresa e desespero daquele que tem passado tantos anos justificar através da manipulação do passado o domínio das oligarquias e a submissão a ideologia capitalista.

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