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“A Arábia Saudita não é propriamente um Estado-nação, mas um Estado patrimonial-familiar, um conjunto de tribos, regiões, facções religiosas, que a monarquia até então conseguira reunir e dominar, apropriando-se do lucro (ribh) do petróleo, acumulando riqueza (80% da receita do país) e liberando a população de pagar impostos  pelos serviços que recebe, ainda que de baixa qualidade: educação, saúde e energia barata. A população jamais conheceu o orçamento do país, que possuía, em 2011, reservas no valor de US$ 400 bilhões. Tudo sempre pertenceu ao rei Abdullah e a família al-Saud, que, por meio de contratos da King Abdullah Bin Abdul-Aziz Foundation for Development Housing Dedicated to His Parents e da Sultan Bin Abulaziz Humanitarian City, com ricas e poderosas famílias, como a de bin Ladin, repassam alguns fundos para construir instituições de caridade para a população.”

MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto, em “A SEGUNDA GUERRA FRIA – GEOPOLÍTICA E DIMENSÃO ESTRATÉGICA DOS ESTADOS UNIDOS – Das rebeliões na Eurásia à África do Norte e ao Oriente Médio”, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2013. Pg. 79

Observações:

– Reparem no nome, , “saudita” vem de “Saud”, da família real Saud.

– É realmente interessante o papel desempenhado por contatos pessoais, tribais e de clã na institucionalidade saudita, refletindo de maneira mais acentuada uma realidade comum a certas sociedades árabes.

– Diversos elementos da sociedade nos remetem a essas características. Me lembro, por exemplo, de um documentário que mostrava um dos príncipes governador de uma província se encontrando com pleiteantes pobres e plebeus em busca de favores, mas oficialmente, isto é algo normal e parte da rotina institucional, uma prática política-estatal. Obviamente, grande parte da política se destina a tratar com líderes tribais e interesses de clãs, entrando em campo da política dos “grandes favores”. Boa parte do orçamento real é destinado a esses acertos políticos, a divisão entre tribos e clãs, a distribuição, o que inclui a distribuição de funções públicas, como é o caso das caridades etc. É o que alguns chamariam, creio que sem muita precisão, de um estado pré-político caracterizado pelo o jogo de interesses entre formações orgânicas e tradicionais. A identidade desses grupos conta mais do que uma frágil estrutural nacional.

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